Quando fui a Gibraltar: Setembro de 2020
Quanto tempo: 1 dia
Gibraltar certamente não é daqueles lugares que alguém classifica como “a viagem dos sonhos”. Dificilmente alguém vai acordar um dia e dizer: “Ah, hoje eu estou com muita vontade de conhecer Gibraltar”. Mas este pequeno território ultramarino britânico que fica na Península Ibérica, bem ao lado da Espanha, é um daqueles destinos peculiares cheios de curiosidades interessantes, que valem uma visita para quem estiver por perto. Tenho certeza que você já ouviu falar no Estreito de Gibraltar, certo? Mas conhece os sociáveis macacos de Gibraltar? E o incrível aeroporto de Gibraltar? Então, bora explicar tudo isso!
Eu resolvi conhecer Gibraltar enquanto viajava pela região da Andaluzia, na Espanha, em setembro de 2020. Então, me perguntei: “por que não conhecer um lugar diferente que fica bem próximo e aumentar a lista de países visitados?” Passamos um dia neste território de apenas 6,8 km2 e com pouco mais de 30 mil habitantes, tempo suficiente para conhecer as principais atrações e ainda comer um tradicional fish and chips inglês. Afinal, Gibraltar é uma mini Inglaterra em outro ponto da Europa. E isso significa que os gastos lá são em libra com custo alto (vários lugares também aceitam euro) e a comunicação oficial é em inglês (muitos também falam espanhol).
Gibraltar está sob o domínio do Reino Unido desde 1713, mas antes disso foi habitado por vários outros povos: cartagineses, romanos, vândalos, muçulmanos e espanhóis. A vizinha Espanha, por sinal, ainda reivindica direitos sobre o território, mas os gibraltinos rejeitam. A disputa histórica pelo local se justifica militarmente pela localização estratégica, uma montanha (rochedo) bem na entrada do Mar Mediterrâneo, com saída para o Oceano Atlântico e colada na África. Passeando por Gibraltar, conseguimos ver um pouco de toda esta história e geografia, além de interagir com os simpáticos macacos e cruzar a pé a pista do aeroporto que é cortada por uma avenida, onde passam carros e pedestres. Gibraltar é ou não é um destino peculiar?
TRANSPORTE:
Nós alugamos um carro pelo site da Rentalcars no aeroporto de Málaga, na Espanha, onde desembarcamos em um voo da Ryanair vindo de Barcelona, por somente 22 euros. Após cerca de 1h30 de estrada, chegamos a La Línea de Concepción, última cidade espanhola antes de Gibraltar. Preferimos estacionar o carro lá e cruzamos a fronteira a pé, para evitar qualquer demora na burocracia. A imigração para pedestres foi bem rápida e não tinha fila. Já do lado de Gibraltar, atravessamos a pé a pista do aeroporto (leia mais abaixo) e usamos o eficiente sistema de ônibus para circular até os pontos de interesse.
O aeroporto de Gibraltar recebe poucos voos, a maioria vem da Inglaterra, e os preços costumam ser mais altos. Por isso, normalmente é mais econômico voar até a Espanha. Para quem não quiser alugar carro como fizemos, outra opção é viajar de ônibus. Há linhas que fazem a ligação com cidades como Málaga, Sevilha e Cádiz, por exemplo. A partir dali, também é possível ir até o Marrocos de barco, saindo do porto de Algeciras, também na Espanha, que fica a uns 20 km de Gibraltar.
HOSPEDAGEM:
Os hotéis em Gibraltar em média são mais caros do que na Espanha. Na época em que viajamos, não achei nada econômico neste território britânico. Por isso, optamos por dormir em La Línea de la Concepción, cidade espanhola que faz fronteira. Tivemos que passar uma noite lá, pois chegamos tarde e deixamos para fazer turismo no dia seguinte.
Ficamos no hotel La Esteponera, por 27 euros a diária de um quarto duplo, com banheiro fora compartilhado. Lugar simples, bem simples mesmo, mas foi o mais barato que encontramos bem localizado. Ficava no centro, perto de restaurantes e a apenas 1 km da fronteira. Serviu bem para dormir. Aliás, La Línea é só para dormir em caso de necessidade mesmo, pois a cidade está longe de ser bonita ou interessante para visitar.
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O QUE FAZER:
Logo que passamos a pé pela fronteira com a Espanha, já vimos a primeira atração deste território britânico: o aeroporto de Gibraltar. Mas por que um simples aeroporto é uma atração? Porque incrivelmente uma avenida cruza a pista de pouso e decolagem, uma situação única no mundo. Carros e pedestres circulam no mesmo lugar onde aviões chegam e partem constantemente. Por falta de espaço, esta é a única via terrestre para entrar ou sair de Gibraltar, que tem uma área minúscula. Olhei antes os horários dos voos, que não são tantos a cada dia, e me programei para estar no local bem na hora de uma partida de um avião, para presenciar esta cena curiosa. E, claro, no momento dos pousos e decolagens, o semáforo e uma cancela são fechados para impedir o tráfego de veículos e pessoas durante alguns poucos minutos, mas é possível observar tudo de perto. Na sequência, a rua foi rapidamente reaberta e nós caminhamos pela pista para continuar o passeio.
Existem vans e guias turísticos oferecendo tours, mas preferimos fazer tudo por conta própria. Pegamos um ônibus e atravessamos todo o território até a ponta da península. Nossa parada foi no Europa Point, o ponto mais ao Sul de Gibraltar, onde fica o Farol do Europa Point. Dalí é possível avistar a costa da África do outro lado (mais precisamente Marrocos), que é separada da Europa pelas águas do Estreito de Gibraltar, que liga o Mar Mediterrâneo com o Oceano Atlântico. A menor distância no estreito entre os dois continentes tem apenas 13 km. Nesta área, também estão a Mesquita Ibrahim-Al-Ibrahim, o Santuário da Nossa Senhora da Europa (Shrine of Our Lady of Europe), o Europa Point Stadium (estádio de futebol) e a Harding’s Battery (bateria, canhão de guerra).
Depois, voltamos de ônibus até a estação de teleférico para subir até o alto do Rochedo (The Rock) que é o símbolo de Gibraltar. O ticket do Cable Car Gibraltar, ida e volta, custa 17 libras (20 euros), ou 30 libras (36 euros) se você quiser incluir a entrada na reserva natural que existe na montanha, opção que fizemos. Ao lado da estação de teleférico do topo, que fica a 412 metros acima do nível do mar, há um café, restaurante, loja de souvenirs e um mirante com belo visual panorâmico do mar e de praticamente todo este território britânico. Demos azar e pegamos um dia nublado, mas mesmo assim a vista valeu. Logo na chegada lá em cima, já fomos recepcionados por alguns macacos.
Mas é somente depois do portão de entrada da Upper Rock Nature Reserve (onde é preciso mostrar o ingresso) que estão as principais atrações, além de muito mais macacos, que vivem soltos, espalhados pela área verde na caminhada morro abaixo.
A maior concentração desses animais fica poucos metros após o início, onde há um ponto de alimentação, com frutas colocadas por funcionários (atenção: não é proibido dar nenhuma comida aos macacos, sob pena de multa elevada). Ali nesta parte, estão dezenas de macacos, grupos, famílias, adultos, filhotes, e é possível interagir com eles, tirar fotos, selfies. Eles também costumam subir nas vans de turismo que chegam até o local. Em geral, os bichos são simpáticos e amigáveis, alguns deixam até tocar na mão e gostam de brincar puxando o cabelo das pessoas, o que é um divertimento para muitos turistas e também foi para a gente. Mas, claro, é preciso tomar certo cuidado e usar o bom senso na hora da aproximação, já que os macacos também podem ser agressivos se se sentirem ameaçados, afinal são animais selvagens. A recomendação é evitar levar sacos e mochilas com comida, pois eles podem pular para tentar “roubar” o alimento. De fato, presenciamos uma cena assim. São cerca de 200 macacos-berberes, nome oficial da espécie (mas nós apelidamos carinhosamente de “gibralcacos”), vivendo em Gibraltar, que foram trazidos há séculos por povos do Norte da África. Segundo a tradição popular, enquanto os macacos existirem em Gibraltar, o território continuará sob domínio britânico.
Em seguida, andamos mais um pouco e chegamos ao Skywalk, uma plataforma com chão de vidro, transparente, de onde é possível ver bem abaixo a Sandy Bay, uma das praias do país. Na sequência, entramos na Saint Michael’s Cave (Caverna de São Miguel), uma interessante caverna descoberta há mais de 2000 anos, cheia de estalactites em seu interior. Hoje ela é utilizada para espetáculos artísticos e, por isso, tem um palco montado, cadeiras, além de iluminação artificial colorida. Também passamos pela Windsor Suspension Bridge, uma ponte suspensa por cabos de aço, de 75 metros de extensão. É possível percorrer todo este caminho de descida a pé, ou então pegar o teleférico até lá embaixo em uma estação intermediária. Mas há outras atrações no trecho final do percurso. As principais delas são os Great Siege Tunnels (Túneis do Grande Cerco), escavados na pedra a partir de 1780 pelo exército britânico para servir de proteção na guerra; e o Castelo dos Mouros (Moorish Castle), um castelo medieval construído na época do domínio árabe. Também há outros pontos de interesse como a O’Hara Battery (uma das várias baterias, artilharia de guerra, canhões), a exposição City under Siege Exhibition e o mirante Apes Den.
Depois que descemos do Rochedo, andamos pela Main Street, a rua principal para pedestres e com várias lojas, e pela Casemates Square, praça cheia de bares e restaurantes. Também fomos até a Catalan Bay com suas casinhas coloridas, uma das praias de Gibraltar. Outros lugares, que não visitamos, mas podem interessar são: o Museu de Gibraltar, o Jardim Botânico, as praias Sandy Bay e Eastern Beach, o forte King’s Bastion, a Catedral, passeio de barco para ver golfinhos e até o cartório onde John Lennon e Yoko Ono se casaram. E Gibraltar ainda tem outra curiosidade, foi o destino onde a Princesa Diana e o Príncipe Charles passaram a lua de mel.
ONDE COMER:
Como estávamos em um território britânico, nada mais justo do que comer um prato típico em um lugar tradicional. Fomos ao agradável pub The Lord Nelson, que fica na Casemates Square. Pagamos 11 libras (13 euros) por um fish and chips (peixe com batata frita) e 3,70 libras (4,50 euros) por uma pint de cerveja. Cheers!
IMPERDÍVEL:
– Programar para ir na avenida que cruza a pista do aeroporto de Gibraltar bem na hora que um avião estiver decolando.
– Interagir e tirar fotos com os simpáticos macacos que vivem soltos na reserva natural no alto do Rochedo.
– Esticar a viagem e ir também para cidades e praias da região da Andaluzia, na Espanha, que é vizinha a Gibraltar.
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